terça-feira, 3 de abril de 2012

VIVENDO OUTROS TEMPOS...

Segue abaixo crônica de Frei Jaime Bettega, publicada ontem dia 02.04.12 no Jornal Pioneiro.

"São visíveis as mudanças dos tempos. Daquilo que parecia importante no ontem, muito ficou no esquecimento. Hoje, as informações são incontáveis. Em tudo parece haver velocidade e, ao mesmo tempo, transitoriedade. A capacidade seletiva da memória parece agredida pelo volume de fatos, descobertas e previsões. Porém, em meio a tudo isso, há um misto de nostalgia tentando resgatar algo nem sempre decifrável. Não seria um fato específico. Talvez saudades de um tempo onde outras óticas, quem sabe mais simples e serenas, orquestravam com sonoridade humana.

A Semana Santa não fica à margem do cotidiano, mesmo que crenças e filosofias de vida continuem multiplicando possíveis explicações e posturas nem sempre favoráveis à liberdade inerente à essência humana. Nem tudo cabe no real conceito de espiritualidade. As fragilidades até podem aceitar ritos e insinuações. Com o tempo, vem à tona o que é verídico. O imutável não pode ser desconsiderado.

Nem o crucifixo escapou de discussão. Houve um veredito. Não tem como contrariar a lei. Até teria. Seria, no entanto, um cansativo processo. Convém recordar que só tem crucifixo porque, um dia, num tribunal, soou uma decisão implacável: era necessário crucificar quem estava propondo o amor como um novo jeito de viver. Tal gesto ecoou para além dos séculos e milênios. Interessante, aquele homem pendurado numa cruz ainda continua inquietando. Diante dele, ninguém fica na indiferença.

Gosto de olhar o crucifixo. Respeito quem desvia seu olhar. É muito mais do que dois traços. Algo desperta a consciência. O coração parece entender a mais eloquente de todas as linguagens: o amor. Somente um grande amor foi capaz de tamanha dor. Convém não ficar à margem da cruz, pois ela poderá permitir acesso à luz.

Deixem que retirem os crucifixos. Já retiram tanta dignidade dos pequenos e sofredores. Mas, do coração ninguém poderá arrancar o seu significado. Que a Semana Santa oportunize alento para os que não abrem mão de viver o amor, apesar da dor. Mesmo estando em outros tempos, há algo que questiona e desinstala. Pense nisso."

Acho que não precisa escrever mais nada, só refletir.

Nenhum comentário:

Postar um comentário